quarta-feira, 11 de março de 2015

Canção da moça fantasma de Sp

Eu sou a Moça fantasma

Que espera na rua do cemitério da saudade
Dentro num  carro da madrugada.
Eu sou branca ,longa e fria,
A minha carne é um suspiro
Na madrugada da cidade...eu sou a Moça fantasma.
E o meu nome era Maria,
Maria-que-morreu-cedo demais

Eu era a sua namorada
Que morreu em um acidente,
Num desastre de automóvel
Ou num suicídio de um quarto esquecido
E seus cabelos ficaram longos das minhas lembranças.

Eu nunca fui deste mundo,
Se beijava minha boca dizia que era de outros planetas
em que os amantes se queimam
num fogo casto e se tornam estrelas,sem ironia

Morri sem ter tido tempo
De ser como outras garotas,
Eu não me conformo com isso ,
e quando todas as pessoas dormem em sua camas,
Eu fico com a minha insonia de São paulo.

Desço as ruas, sem nenhum  destino
Fico olhando os novos prédios,
Vejo os bancos fechados,loterias roubadas
Tento procurar um abrigo  mais não há abrigo,
Apenas um perfume que não conheço.


E vou,como não encontro
Nenhum dos meus amantes, em que as francesas conquistaram
e beberam todo o uísque existente do brasil que agora dormem embriagados ,
Vejo homens pressos em suas caixas metais,sem nada a dizer e não suspeitando de minha brancura e fogem.
Os tímidos guardas civis
Eles tentam me tocar.
Mais não tinha carne nem, por cima, e nem por baixo do vestido
Era o mesmo abismo branco ,um triste desespero,
Pois o que era corpo foi engolido entre as cinzas da cidade

Eu fui moça,serei moça
Deserta,por minha solitude.
Não quero saber de moças.
Mais os moços me perturbam.
Não sei como me libertar
Se o fantasma não sofresse ,
se eles ainda me gostassem
e o espirito aceitasse ,
Mais sei que é proibido,
Pois você tem a sua carne,eu sou apenas vapor.
Um vapor que se dissolve
Quando o sol rompe das vistas dos prédios.

Agora eu estou consolada,
Disse tudo que eu queria,
Subirei daquela nuvem,
serei lâmina gelada,
cintilarei sobre os homens.
Meu reflexo dos vidros dos prédios
da Avenida Paulista.
E as estrelas não serão entendidas.
E as estrelas não serão entendidas.
E as estrelas não serão entendidas.
ninguém o compreenderá.
 (Poema de Carlos Drummmond  de Andrade  que foi refeito   por Caique Nogueira )

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