quarta-feira, 13 de junho de 2018

Tempo perdido.


Uma máquina de escrever, um maço de cigarros amassado, e uma pequena garrafa de White Horses  vazia. Era tudo que aquele homem tinha, além do quarto escondido das sobras no bairro São Miguel. De vez em quando, escrevia alguns versos, sentia um prazer celestial ouvindo o barulho do teclado, mas depois ele ficava cansado, ou triste demais.

Ele olhava para  a janela do apê  em que morava, e via os carros passando rapidamente, sem nenhum tipo de pressa. Única coisa que parava era um carro desatento, porém os outros carros ficavam puto e o carro seguia em frente, sem olhar pra trás. Ele tenta ver alguma coisa na rua, algum cheiro de novidade, alguma mulher que tinha uma boa dupla de pernas, ou um bar abrindo numa tarde chata de um domingo morto. Mas nada, apenas a sua solidão transportada pelas ruas de SP.

“Que inferno é a existência”, era o que pensava o idiota. Nenhuma dose, nenhum espaço reserva da cama para uma boa mulher dormir, e nenhuma boa mulher. Os versos eram apenas retratos doloridos de uma alma dolorida, mas nada demais. Do fim, parece que todo mundo está triste e fodido.

Ele escrevia e escrevia, tentando não ouvir os sons dos carros, e nem ouvir o silêncio do céu da tarde. Mas era em vão. Era inútil. A poesia foi embora, e só restou a merda.

Ele se levanta da cadeira, vai até o telefone, que fica ao lado na cama. Ele senta na cama, pega o telefone e tenta lembrar do tal número. Ele ficava olhando pro teto, tentando lembrar...lembrar, e ele conseguiu lembrar apenas 10 minutos depois: 2511-4489.Era o telefone que ele queria ligar. Ele via aqueles números como um triste déjà-vu, mas também como uma forma de fugir (por um curto momento) naquele quarto pequeno, e naquela rua movimentada e cinza.
Ele aperta os números do telefone com agressividade, esperando ouvir a tal voz charmosa e feminina. Uma voz que remetia um sorriso sexy desleixado, mergulhado num amor louco em uma sexta feira noturna graciosa. Ele disca os números, e espera...

Ficou chamado, e chamado. Porém, no decorrer dos segundos, apareceu uma voz metálica, robótica, falando pra ele que aquele número não existe, e que é muito provável que ele tenha errado o número. Ele olha pro telefone, desliga ele, e com uma fúria nítida e bruta joga ele na parede.

E observa com uma lentidão cruel o telefone se quebrar em mil pedaços quando se choca na parede. O telefone fazendo um som bruto, alto, assuntando o gato da vizinha, e depois os restos mortais caindo em direção no chão. Caindo...pedaço por pedaço. Segundo por segundo...vidas e mais vidas, tudo desperdiçado, destruído, banido por alguém, ou por si mesmo.

O inferno dele era isso...era o telefone quebrado, o número inexistente, o apartamento feio e fodido, a máquina de escrever, o maço de cigarros amassado, a garrafa vazia de whisky e aquela rua cinza e barulhenta. E do fim, ele sabia que tinha que quebrar o espelho, ou retalhar o próprio rosto para esquecer as leis dos homens, ou para esquecer que já existiu alguém feliz.














quarta-feira, 6 de junho de 2018

Daniel Bernado.





Daniel Bernado. A rua que me prende.A rua que me deixa aqui por um bom tempo.Eu choro com ela,eu sangro com ela,e as vezes...eu sonho com ela.Eu sonho com a rua Daniel Bernado.

Eu sonhei com ela hoje a noite, do meio da madrugada.

Do meu sonho,eu estava na rua novamente, só que a rua estava lotada.Assim como boa parte dos bons sonhos,eu não sabia o porque  a rua estava lotada. Parecia que a maioria estava lá bebendo, curtindo, ouvindo uma música, ou coisa do tipo. De qualquer forma, eu estava na bombonierie, com o meu pai, e eu disse pra ele...

-Pai,eu vou dar uma saída.Eu vou visitar o meu amigo.Parece que ele quer que eu toque novamente no bar dele.
-Ok filho.
-Você vai conseguir atender todo esse pessoal?
-Vou sim.Parece que eles estão apenas bebendo na rua,e nada mais.Eles estão ai já faz duas horas,e eles não vieram aqui.
-.Beleza.Eu vou lá,daqui a pouco eu volto.

Eu sai na bombonierie, e tentei cruzar a esquina,onde eu ia me deparar com a papelaria Walkiria. Porém, quando eu ia cruzar a esquina,uma garota me esbarrou.Ela olhou pra mim,eu olhei pra ela,e nos reconhecemos.Ela disse o meu nome.

-Nicolas!


Eu sabia quem era a garota.O nome dela é Katie.Ela é uma garota de um metro e oitenta,que tem cabelo vermelho,óculos com cor vermelho,blusa vermelha,e uma calça jeans apertado.Dava pra ver a  beleza das pernas dela,e ela sempre foi uma garota bonita.Eu nunca entendi a fixação dela por cores vermelhas,mas eu fiquei surpreso por ver ela. Ela era uma ex-colega na escola Darcy Ribeiro.Uma escola que fica também na rua Daniel Bernado,em frente do estabelecimento do meu pai. Ela sempre pedia ajuda pra mim dos estudos.Eu sempre a ajudava,pois eu era um nerd boboca.
Ela me abraçou por um bom tempo,e eu estava gostando disso.Parecia que ela estava com o pessoal da rua.Ai depois de um tempo, apareceu outra pessoa. Apareceu a amiga dela, que se chama Ana.  Ela é morena, alta também, e é  igualmente bonita. Eu também ajudava ela dos estudos. Ela me abraçou também, só que com mais timidez.Ela não  estava  tão extrovertida quanto a Katie.

A gente ficou lá,falando dos velhos tempos.Do decorrer do papo,eu perguntei pra elas o porque elas estavam lá.Elas responderam.

-Estamos esperando o encontro começar!
-Que encontro meninas?
-O encontro da turma do primeiro ano!
-A turma do primeiro ano?
-Sim!
-Pra que isso?
-Pra matar a saudade!
-Vocês duas tem saudades no Darcy?
-Temos.Você não tem não Nicolas?
-Não.

Elas riram com a minha resposta.Se você me perguntar o porque,eu não sei lhe responder.Elas sempre acharam que eu era um cara estranho,e sempre me achava engraçado por causa disso.

-Quem vai aparecer nessa reunião?
-Carlos.Jefferson.
-Jefferson vai aparecer?
-Sim.
-A Romenia.A Fulana...a sei lá quem...

E o pessoal apareceu.E  a gente ficou se abraçando e tudo mais.Eu fiquei um pouco contente,pois o Jefferson estava lá,e já fazia tempo que não via ele.Jefferson é uns dos poucos amigos que eu tinha da época.

-Eae meu rapaz? Como anda a tua vida?
-Anda bem,Nicolas.
-Ainda esta tocando?Como vai a música?
-Eu sou enfermeiro de um hospital. Mas eu ainda não desisti da música. Eu toco numa igreja.
-Legal cara.
-Por que você não toca na igreja Nicolas?
-Oras Jefferson.Você sabe que eu sou um cara  sem religião.
-Ah é. Verdade.

Ele disse isso com certa lamentação,mas era o mesmo Jefferson de antes.O mesmo cara que sonha em ser um grande músico,e ter uma boa mulher,ou coisa do tipo. E eu sempre fui o solitário,o rabugento, o pessimista, mas éramos amigos. Éramos bons amigos.

-Jefferson.
-Sim?
-Desculpe.
-Desculpe pelo que?
-Você sabe.Eu te tratei muito  mal.
-Tudo bem Nicolas. Tudo bem. Era pura zoação. O pessoal te zoava também.
-Verdade. A Rosania então...
-O Emelino também...
-É...
-Faz parte da vida.  
-Sim.Acredito que sim.


A gente ficou lá,batendo papo e tudo mais.Eu esqueci de ir no bar do meu amigo, e fiquei lá, da esquininha na rua Daniel Bernado. A rua ficava cada vez mais lotada,com pessoas conversando,bebendo e tudo mais.
Tudo fluía bem,até aparecer uma figura.A última pessoa.A pessoa em que nenhuma das garotas falaram pra mim.A ultima pessoa convidada do encontro. Era a garota.
Ela apareceu, e Deus...ela era tão bonita. Cabelo castalho solto ao vento, olhos castanhos duros e brilhantes, lábios canudos, usava um casaco marrom, um salto estiloso, e uma calça jeans rasgada. O rosto era brilhante, tinha uma cor  branca e suave..Ela sempre abria a boca com certa gentileza,e sempre transmitia uma voz suave.Era a garota mais linda na rua.Ela parecia ...um sonho. Um verdadeiro sonho.E era ...era um rosto familiar. Um rosto que eu já conhecia antes.Era estudava no Darcy também,mas...não sei...ela estava tão brilhante,e a presença dela era tão forte.Ela apareceu,abraçou toda a garotada.E depois olhou pra mim.Olhou com aqueles olhos castanhos profundos, quase brilhando  junto com a estrela da tarde.

-Nicolas...lembra de mim?

Quando ela disse isso,todos os rostos na rua ficaram borrados,sem expressões,sem nada.Eram apenas pessoas borradas,e o tempo de alguma forma parou...
Eu ignorei a Katie, a Ana, a Rosania, e até o meu amigo Jefferson.De alguma forma,era um momento em que apenas nos dois se destacávamos do resto.Pode parecer arrogância,mas eu juro que era real.

-Então,você lembra de mim?
-Sim.Sim...mas ...desculpe...eu esqueci o seu nome.
-Hahaha...isso é tão comum .Você sempre foi um garoto esquecido.Aposto que você não sabe o que comeu ontem.
-Poxa vida, não seja tão cruel. Já passaram 7 anos, e eu devo ter melhorado alguma coisa.Eu lembro o que comi ontem:eu comi frango assado.
-E o que você comeu antes de ontem?
-Ai você esta pedindo muito.
-Viu...você não mudou...
-Dúvido que você sabe o que comeu antes de ontem.
-Claro que eu sei,e eu sei o seu maldito nome.Seu menino esquecido.
-Ah sim.
-E eu sei até do seu antigo apelido.Aquele apelido idiota.
-Aquele?
-Sim.Aquele.
-Oh por favor...
-Pequeno Urso.
-Ah,que merda!Você lembra esse apelido dos infernos!
-Todo mundo que estudou da nossa época deve te conhecer,e deve te chamar de Pequeno Urso.
-Eu detesto esse apelido.
-Eu sei.Você fica engraçado quando fica bravo.
-E você...

Ela olhou pra mim com certa curiosidade.Ela queria saber o que eu ia falar.Eu ia falar algo ...algo que estava dentro do coração.Eu fiquei com certo receio,e até gaguejei.Mas eu vi que tudo estava borrado,que tudo parecia ser um sonho divertido,e que falar qualquer coisa naquele momento não ia ser proibido.O tempo esta parado,ninguém esta vendo,somos criaturas solitárias vivendo numa cidade solitária.Quantas vezes queremos dizer alguma coisa fodastica, poética pra caralho, cósmica, mas não falamos porque sentimos que é tosco?Que é algo desafinado?A maior reação das pessoas iam ser de zombaria ,ou de sarcasmo? Eles iam rir da sua cara,e falar que você é brega.Oh Deus,como eu queria pintar  os meus amores,os meus sentimentos e anseios por toda essa cidade.Como eu queria dizer pra aquela mulher
-Eu o que?
-Você...fica linda quando dá esse sorriso.Esse sorriso mesmo que você esta me dando.

Ela deu um sorriso vermelho, forte, genuíno .Não tinha pornografia, e tão pouco tinha algo sujo.Era algo natural,perfeito em sua natureza,delicado em sua formação daquele rosto bonito e fluido.

-Esse sorriso?
-Sim.
-Eu posso aumentar ele?
-Sim.
Ela aumentou o sorriso,mas ficou forçado.
-E agora?Eu estou mais linda?
-Agora você esta forçando.Ai não tem graça.
-Oras,por que não tem graça?
-Por que as coisas mais bonitas do mundo são as coisas naturais,e não as coisas forçadas.
-Que legal,tipo aquelas fotos que as pessoas tiram sem a nossa permissão.
-Sim,isso mesmo!Você sacou!Você entendeu!Lá esta a vida!Lá esta a existência como ela é!
-Então a vida é uma merda.Pois cada foto feia que  eu tenho.Fotos tiradas sem permissão.Fotos de eu comendo macarrão,fotos de eu bêbada,dopada,ou coisa do tipo.
-Você fica linda em qualquer situação.
-Não seja tolo.
-A sua beleza é natural.Mesmo que um cara desfigure o seu rosto,a sua beleza ainda vai estar ai,nesse sorrisinho de menininha.
-Eu não sabia que você é tão meigo.Quer dizer...acho que eu sei,a questão é que você dá uma de durão..
-Talvez você tenha razão.E você...você sempre foi durona.
-Nunca fui  durona.
-Oras,eu vi você quebrar a mandíbula da Joana.
-Aquilo foi necessário.Ela mexeu comigo.Mas ninguém é durão.
-Ninguém?

Ela dá aquele sorriso melódico e diz com extrema lerdeza.
-Ninguém.Nem mesmo você,pequeno urso.
-Ah para com isso!Que merda!
-Pequeno Urso. Humm...o  apelido até que é bonitinho.
-Você acha?
-Acho sim...

Depois disso,o tempo passou rápido.Passou mais rápido do que de costume.Eu não consigo dizer pra vocês o que exatamente aconteceu,já que eu não lembro claramente do meu sonho.Eu só lembro que ela chegou até o meu corpo,me abraçou,e nos começamos a nos beijar.A gente voltou a se amar.Eu lembrei de tudo que vivemos. Cada beijo foi um atestado de amor,atestado de compreensão e empatia,e a rua Daniel Bernado ficou cada vez mais colorida,vibrante,elétrica.Parecia um carnaval noturno.Todos os rostos(que daquele momento rápido se transformaram em mascaras de fantasia) ficaram berrando,dançando,beijando.Até o meu pai,a lua, e sei lá mais quem estava dançando.Foi algo louco e lindo.Foi algo vivo demais.
Porém o ultimo beijo foi proferido,e o ultimo beijo foi tão rápido que nos dois percebemos que já passou um bom tempo que a gente estava naquela esquininha. Já fazia um bom tempo que estávamos sentado na rua, abraçados, com um beijando o outro. O último beijo foi proferido do final da noite, e a rua Daniel Bernado estava vazia. Todo mundo foi embora, menos a gente. A gente deu o último beijo,ela ficou me abraçando e olhando seriamente pro meu rosto.Aquilo foi intimo,e doloroso demais.Parecia que era mais um adeus,mais uma maldita despedida nessa maldita cidade.Sim,sim,Deus sabe quantas despedidas eu já fiz.
Ela olhou pra mim, brotou uma lágrima de cristal. Eu beijei da testa dela,ela sorriu com tristeza.

-Menina...
-Oi?
-Por que tudo é tão triste do final?Por que a vida não é que nem um aparelho sonoro?Onde podemos repetir aquela música gostosa infinitas vezes?
-Eu não sei,meu ursinho.
-Eu também não sei. Talvez eu sei, mas sinceramente...
-Não precisamos saber agora.Por hora,ainda somos idiotamente jovens.
-Sim...mas as suas lágrimas...
-Sim...
-Eu esqueci que eu te amava.
-Eu também esqueci.
-Droga!Você é  tão intima.Você  é tão linda.Mas deus me perdoe...qual é o seu nome?
-O meu nome?
-Sim,sim.Olha,eu peço desculpa,mas eu ainda não lembro o seu nome.Eu lembro do nosso passado,mas porra...eu esqueci o seu nome.Me diga,qual é o seu nome?Eu posso te procurar do facebook.
-Meu nome...meu nome...

Quando eu perguntei isso pra ela,bom...ela simplesmente desabou.Ela começou  a chorar do meu ombro...
-Por que ?Por que choras tanto?Foi o que eu disse né? Deus, você não sabe o quanto eu me odeio agora.Eu queria tanto saber o seu nome. Como eu queria. Por favor, diga pra mim o seu nome.

-Não posso...não posso...
-Por que você não pode?Por favor,pare de chorar.Hoje foi tão divertido,a gente riu tanto.Qual é o seu nome?

-Eu não posso Nicolas!Não posso!Deus do céu!Isso ia estragar tudo!Eu não posso, não posso, não posso, não posso...

Única coisa que eu sei,foi que ela repetiu essa frase infinitas vezes.E cada vez que ela repetia a frase,ela falava numa voz mais apresada e mais chorosa.Ela infernal.Eu tentava beijar ela,dar algum tipo de apoio,mas parecia que era tarde demais.Era e sempre vai ser tarde demais. Eu fiquei lá, com ela, quase chorando ,e depois a rua foi dominado por uma grande névoa, e depois  eu acordei.

Acordei em torno de 5:40. Na verdade, foi o meu pai que me acordou. Ele disse pra eu ir do trabalho.Eu acordei,troquei de roupas,escovei os dentes,lavei o rosto,e fui novamente na rua Daniel Bernado. E não sei porque, quando eu cheguei na rua,eu senti uma dor do estômago e da alma. Eu me senti triste e só.
E a névoa(de alguma forma estranha)ainda estava lá.







Um triste boquete.




Ela apareceu aqui
Em torno de 21 da noite.

Veio vestida de uma camisola preta
E o corpo estava sujo de óleo.

Ela sorri pra mim
Porém o sorriso é amarelo demais.

O corpo,a camisola,o óleo parecia ser algo tão triste
Apesar de que  qualquer um achasse ao contrario.

Mas o pior foi o boquete que ela me deu
Ela chupou o meu pênis por vinte minutos.

Ela chupou o meu pênis de um jeito tão burocrático
Que parecia que os vinte minutos duraram vinte anos.


Ela chupava,com profundo desgosto
E eu olhava pra janela,pensando porque eu estava lá com ela.

Foi uma imagem vazia e triste.


Não sei...

Do fundo,eu queria sair dali,queria pedir que ela parasse de chupar
Eu queria estar onde a felicidade estava,eu queria estar onde a música e as pessoas boas estavam
Eu queria estar dos braços de outra mulher,sendo chupada por outra puta
E não se sentir arrependido por pagar 60 a hora.