Eu vejo a noite aparecer timidamente perante os meus
olhos.Eu olho pra minhas ruas.Das ruas que vivi por um bom tempo:as ruas de Emerlino
Matarazzo.Tudo esta vazio,apesar de que se trata de um sábado noturno.As
pessoas não estão aqui,a cena não esta acontecendo.So possui aqueles típicos
bêbados,que ficam andando por ai sem nenhum destino,apenas achando(talvez) um
lugar pra ficar e esperar a morte.
Sinceramente,não me sinto que estou distante deles.
De alguma forma,estamos todos esperando a morte.Do fundo da
alma,criamos esse sistema.Criamos a magnitude da burocracia.Criamos mil motivos
para ter filas,números,senhas,documentos,mandatos de registros,etc.Procuramos
mil motivos para desperdiçar o tempo.Talvez não sabemos o que fazer com ele,e
deve ser por isso que a desperdiçamos.
Não podemos abraçar,ou beijar alguém da rua.Não podemos
chorar,pois o choro é um ato tão solitário que dói a alma.Não podemos lutar
contra os Leões,pois ninguém nos ensinou a lutar contra os Leões.
As escolas não falam sobre o processo de envelhecer,de
morrer,de consumir venenos,e de pensar(de vez em quando) em suicídio.Não falavam
como um ser humano enlouquece,e pouco falam sobre como funciona o mundo
selvagem.
Parece que eu aprendi nessas ruas de Emerlino mais do que eu
aprendi das escolas.Eu aprendi a me desiludir,a chorar como homem,a rir como
uma criança boba,e ter noites como essa,onde eu ando como um bêbado sem casa.
Vendo a lua cair sobre os prédios,e rezando pra chuva chegar
para esfriar o meu corpo quente e doente.
De alguma forma,eu me sinto doente.Me sinto doente demais.
Talvez eu tenha uma doença incurável que não dá pra
recuperar.Talvez eu tenha que desistir de tudo,de tentar ser algo,de ser o que
sou,e tudo mais.Talvez eu tenha que me isolar do meio do mato,com apenas uma
janela pra ver o mundo selvagem e até desaprender o afalbeto pra me recriar...
Mas por hora,eu só estou aqui,matando o meu tempo,celebrando
os meus inimigos,e vendo o motivo de o palhaço de São Miguel rir com tanto
desdém.