segunda-feira, 31 de julho de 2017

Janela esquecida.




Uma garota
olha pra rua flamingo
vendo o seu amor dançar com a  menina mais popular da escola.


A chuva chega
molha toda a cidade e todo mundo que esta da rua flamingo
mas mesmo assim os dois ainda estão juntos...


Se beijando
Se abraçando
Rindo como os reis do mundo...

enquanto a garota esta olhando pra aquela cena, como se ela fosse  a maior mulher solitária do mundo.


Mas ela sabe que pode ficar ai
olhando nessa janela esquecida

Pois ninguém vai perceber que ela e a janela existe
Ninguém vai perceber que a dor existe em algum lugar da rua flamingo...
Mesmo que do fundo todo mundo sabe que a dor esta plantada em todos os lugares do mundo
Elas vão ignorar
Sempre vão ignorar

Pois a dor é algo que as pessoas não querem lidar
já que é um ato que doí demais...


As pessoas preferem olhar pro casal alegre dançando da chuva
do que a garota esquecida chorando que nem uma criança...
e isso sempre vai se repetir.
Sempre vai se repetir meu amor.

Sim...meu amor...
Isso sempre vai se repetir.


Você pode rir,e o mundo rira com você
Você pode chorar,mas chorará sozinha.
Sempre chorará sozinha.
Sempre...
Sempre...
Sempre..
Sempre.

Heróis esquecidos



Alguns deles
Vão pro meu quarto
Os tais heróis esquecidos


Eles tem vozes
Aromas
E poderes mágicos...
Os heróis esquecidos...

A suas solidões são magnéticas
E seus atos são considerados criminosos
Os heróis esquecidos do mundo.

Mas eu sei
Que eles sabem
Que certas coisas que eu sinto
Não estão das rádios
Da tv
Ou dos livros...

Estão das faces
Fúnebres
Fortes
E tristonhas
Dos heróis esquecidos do mundo...























Abortado




Você se deitou do minha cama
Fumou mais um cigarro
E ficou vendo um filme que estava passando.

Eu estava indo embora
Indo do bar
Encher a cara mais uma vez.

Porém  você olhou pra mim
Com olhos quase frios
E disse
“Você não sabe amar
E mal saber falar sobre isso”

Eu lhe dei um sorriso triste
Uma resposta sarcástica
E fui embora.


E senti as tuas palavras golpeando o meu peito.


De alguma forma,
Eu senti tudo.

Eu senti as burocracias do mundo
As solidões das relações
E da estranheza de ter uma estranha dentro da cama.


Eu sentei num banquinho da praça
Tentando olhar pro uma arvore triste e cinza.

Depois eu desviei o olhar
E olhei pro um cachorro magro bebendo água de esgoto...

E abortei mais uma vez
A chance de sentir mais alguma coisa
Que o mundo chama de amor...






Lagoa do inferno

Agora vemos os anjos caindo da lagoa do inferno
Com os olhos olhando para o céu
Pedindo alguma espécie de salvação


Assim como vemos as putas passando pela rua consolação
Com as bundas gordas e estúpidas
Falando as mesmas coisas


Alguma imagem trausente
Uma punheta sem pau
Ou um tiro sem bala
Perfurando o crânio dos bebês mortos

O Paraíso indo embora mais uma vez
Junto com a estrela suicida da noite
Junto com os seios de Mona Lisa
Se despedindo com o resto que o mundo deixou pra gente.

Tudo parece um mar de merda
De asneira
De Tristezas sem fim

O homem não faz mais sentido
Ou tenta parecer que faz sentido
Porem mal percebe que não faz sentido

E nada de fato esta acontecendo


Criamos estatuas
Deuses
Artefatos
Estados
E monopólios de poderes
Que celebra o ato trágico
De tentar controlar tudo.


E agora
Nos sorrimos
Como doces perdedores
Perfurando os próprios peitos
Tentando instaurar um ar homicida aos nossos tristes amigos e inimigos

Por que não?
Por que não?
Por que não?


O impacto pode ser doce
A ponte pode ser o abrigo
A água do esgoto pode ser o abraço
O Banheiro sujo pode ser uma igreja


Por que não?
Por que não?
Por que não?

O suicídio  pode ser o portal de Deus
A doença pode ser uma nostalgia  desconhecida
Um poema pode ter estilo
Um poema pode ser divertido
E a vida pode ser barata...

Por que não
Por que não?

Eu não vejo mais a minha sombra
Os espelhos já tem vozes desafinadas
E o meu peito já não tem mais a juventude...

Por
Que
Não?


O rifle já se instaura
Os berros dos gatos retardados já são reverbs das ruas
E eu finjo que não tenho nada a ganhar
E a perder...







quinta-feira, 13 de julho de 2017

Os anjos jogam granadas.

Os anjos loucos jogam granadas
Em cima da lagoa dos  mortos

Tentando queimar
O velho arquivo do mundo

 Mas você sabe
Que um dia eu vou estar lá

Que um dia
Todo mundo vai ser arquivo queimado

A minha guitarra
De 5 cordas
Junto com o meus trocados
Esquecido do bolso
Vai ser jogado
Do infinito destrutivo
E contemplado
Pelo Deus pessimista

Os anjos loucos jogam granadas
Em cima da lagoa dos  mortos

Tentando queimar
O velho arquivo do mundo

E a Marie
Ela esta aqui

Fumando um cachimbo
E tatuando a própria perna

Tentando de alguma forma esquecer
Que eu fui um idiota
Que eu fui um idiota


Pois
Ela sabe
que as tatuagens
que os beijos
vai ser jogado
do infinito destrutivo
e contemplado
pelo Deus pessimista

Os anjos loucos jogam granadas
Em cima da lagoa dos  mortos

Tentando queimar
O velho arquivo do mundo

Tentando beijar o novo cometa

Que vai deslizar sobre as cordas da guitarra...

terça-feira, 11 de julho de 2017

Madame Morte.


Obs: Esse texto é dedicado a minha querida Vó Célia.



Hoje a Madame Morte visitou uma pessoa muito querida.Ela visitou a minha Vovó Esmeralda do hospital público de Vergueiro em torno de duas da manhã.O meu tio Geraldo estava lá segurando as mãos doces da Vó Esmeralda,e depois ele percebeu um sopro melódico que a Madame Morte soprou para o  corpo da Vó Esmeralda.Depois disso ele  viu que era tarde demais para a vó Esmeralda.
A Vó Esmeralda morreu.

Depois disso o tio Geraldo ligou para o meu pai,o meu pai se levantou da cama e foi direto pro hospital.Porém daquele momento já era tarde demais.A Madame Morte já fez o trabalho dela,e apenas deixou flores de plástico do peito da minha vó como uma espécie de conforto(ou de triste ironia).
A Vó Esmeralda morreu.

O meu pai assim como os meus tios teve que cuidar da papelada,pegar os documentos da minha Vó,pensar do cemitério e tudo mais.Ele foi da funerária,teve que ajudar a colocar as roupas  da  Vó junto com o funcionário da funerária.A minha Vó estava pesada demais.Mas ele conseguiu colocar a roupa do corpo falecido.A  Madame Morte não estava mais lá,ela não mexia nessas coisas.Quem mexia das burocracias dos defuntos sempre são os vivos,e não a  Madame Morte.

A Vó Esmeralda morreu.

Em torno de 10 da manhã eu acordei.Minha mãe olhou pra mim como olhos tristes e disse pra eu me preparar.De alguma forma eu já sabia o que ela ia dizer,pois parece que eu  estava seguindo os trilhos que a Madame Morte fez nesses últimos meses.De qualquer forma,a minha mãe avisou...

“Nicolas,a tua Vó esta morta.A Vó Esmeralda morreu.”


Depois disso eu sabia o que iria ocupar o meu dia inteiro.Única coisa  que eu não sabia é se eu iria suportar tudo aquilo.Uma hora depois eu me troquei,me vesti tudo de preto.Eu apenas esqueci do meus óculos,pois eu não queria que as pessoas me visse chorar.De qualquer forma,isso não importava tanto.Passou mais uma hora,o meu pai chegou.Todo detonado,estilhaçado em mil pedaços.Mas ele tentou parecer forte,na verdade ele tinha que ser forte.

Pois a  Vó Esmeralda morreu.


Ela ia ser enterrada do cemitério da saudade.Perto de casa.Mas não sei porque,parecia que o caminho era longo.As ruas estavam vazias,o céu estava ameaçando chover.As putas saíram das esquinas.São Paulo parecia ser a cidade mais triste e solitária do mundo.De fato,a Madame Morte fez uma belíssima festa fúnebre.Com céus cinzas,ruas vazias,vômitos de cachorros e tudo mais.

A Vó Esmeralda morreu.

Quando chegamos do cemitério da saudade,tínhamos que conversar com os funcionários.Eles disse que era pra gente entrar da sala 2 do corredor 1.A minha Vó estava lá,assim como boa parte da minha família.A gente seguiu o corredor,andando até a sala 2.Do meio do caminho a gente só viu pessoas chorando,andando sem nenhum destino,pessoas partidas em mil pedaços.A gente chegou da porta 2,e eu vi a minha tia Dilma sair de lá com os olhos vermelhos e o rosto molhado.Eu vi também alguns dos meus primos,tios e amigos.Tudo mundo estava triste,chorando,ou então tentando não chorar.Do centro da sala estava o meu tio pastor perto de um tumulo recheado de flores.Um tumulo recheado de flores onde a minha Vó estava estabelecida.As pessoas tocavam da mão dela pra ver se ainda tinha um pouco de calor vivo.

A Vó Esmeralda morreu.

Passou um tempo.O meus pais ficaram pra fora da sala,tentando tomar ar fresco.Eu simplesmente não fiz isso.Eu fiquei lá parado como cera,olhando pro túmulo,olhando pro rosto partido dela.Daquele momento eu tentava aceitar aquilo,mas algo doía por dentro.Algo incendiava o meu coração,tirava um pedaço dele e jogava da cesta de   lixo.Aquilo doeu pra caralho.

A Vó Esmeralda morreu.

Passou meia hora olhando pro rosto da Vó Esmeralda.Enfim chegou os pastores,os caras que iam fazer belos discursos e tudo mais.Eu ouvi aquilo,assim como ouvi as canções clamando por Deus e por um mundo que seja melhor que o nosso.Durante todo aquele ato,eu continuava olhando pro rosto morto da Vó Esmeralda.Aquele foi o momento onde a moeda realmente caiu da ficha.Aquele foi o momento que eu percebi mesmo que ela morreu.Onde eu percebi que não vai ter mais Domingo da casa  dela,que eu não ia mais comer aquele delicioso bolo de cenoura que ela fazia,que eu não ia mais levar broncas dela,ou então eu não ia mais receber os telefonemas que ela me dava quando eu fazia aniversario.A Vó Esmeralda se foi.Eu chorei que nem uma criança  perdida do shopping sem a vista dos pais.

A Vó Esmeralda morreu.

Eu me senti rodeadas de pessoas,mas ao mesmo tempo  me senti totalmente só.Por mais que todo mundo compreendia aquilo,sentia aquilo junto comigo...eu me sentia só.Nenhum abraço poderia me reconfortar,nenhuma frase poderia me deixar bem,nenhum ato bondoso me deixaria alegre. Ninguém poderia me salvar,eu estava fodido.Eu estava delirando,eu estava  chorando não só aquela ausência que a Vó Esmeralda  fez hoje,mas a ausência que ela vai fazer pro resto da minha vida.Ela era umas das poucas pessoas que me compreendia.

A Vó Esmeralda morreu...

Bom,depois de toda aquela  cerimônia os caras do cemitério apareceram.Eles chegaram com um carrinho pequeno.A minha família pegaram o túmulo,colocou do carrinho com a maior delicadeza.Os caras da funerária dirigiram com delicadeza.Engaçado,quando a gente fica vivo,as pessoas nos tratam como merda ,mas quando alguém morremos,as pessoas nos tratam com uma extrema delicadeza.O que a Madame Morte fez com o mundo para que ele funcionasse de uma maneira tão estranha?Será que a culpa é realmente dela?
Será que a culpa é inteiramente nossa?

Bom,eu só sei que a  Vó Esmeralda esta morta.

O carrinho levou aquele túmulo lentamente ao destino.Eu caminhei junto com a minha família.Eu dei uma olhada pra trás,e vi que tinha varias pessoas seguindo o tumulo da minha Vó.De fato,ela era uma boa pessoa,e todo mundo ama ela.Foi um momento muito bonito.A caminhada durou pouco,o carrinho parou do local que ia ser enterrado.Eu dei uma olhada pro local,era um longo buraco.Eu vi eles colocando delicadamente o tumulo da minha vó dentro daquele buracão,e depois eu vi o meu tio Geraldo pegar a pá e colocando a terra sobre o tumulo.Eu senti o peso da terra sobre o tumulo,e eu vi o tumulo desaparecer sobre o rio de terra.Ela se foi.

A Vó Esmeralda  se foi.

O funeral acabou e eu fui embora.Fui pra minha casa.Cheguei lá em torno de 19:00.Eu entrei do meu quarto,toquei um pouco de guitarra e depois  vi você deitado da minha cama. Sim,você mesmo Madame  Morte.

Você  estava nua,com os seios pra fora,mostrando um corpo lindo e escultural.Os teus olhos são negros como a noite, a sua boca é  vermelho bruto como a rosa da primavera perdida,e a tua pele é branca como a neve.Oh Madame Morte,tu es linda demais.
E as vezes cruel demais.


Ela sorriu pra mim.Um sorriso misterioso e ao mesmo tempo soturno.
Ela me disse
“Você vai ter  que se costumar a conviver comigo Nicolas.Você sabe disso certo queridinho?”

Eu olhei pra ela e disse
“Você sabe que ninguém gosta de conviver contigo queridinha.”

Ela riu alto,e replicou...
“Não é isso que você pensava dois anos atrás.Certo?Eu lembro como você  era.Você pedia a minha ajuda toda hora.”

Eu olhei pra ela com raiva e disse
“As vezes você é uma puta.”

Ela me deu um sorriso bravo e disse
“Não,eu não sou uma puta.Você sabe muito bem disso meu queridinho.Pois toda puta tem um preço,e eu não tenho preço.Você pode ser o cara mais gostoso ou rico do mundo,que eu não vou me recuar perante aos meus serviços.Eu estou sempre em serviço.Nunca aposentei,nunca tirei férias.Folgas?Não.As pessoas pensam que as vezes eu tiro folgas,só que do final das contas eu sempre a surpreendo.Eu sou surpreendente. “

Eu fiquei olhando pra ela,só que com tristeza.Eu não tinha raiva.Não mais...

“Só me diga uma coisa.Responde apenas uma pergunta...”

Ela demonstrou uma certa  curiosidade...
“Sim,diga-me o que tu pensas.Que pergunta  você quer fazer?”

“O que acontece depois?”

“Como assim depois?”

“Depois de você fazer o seu trabalho,por onde as pessoas vão?Existe Deus?Existe paraíso?Existe inferno ou coisa do tipo?”

Ela olhou pro teto,ficou refletindo por um bom tempo e depois respondeu.
“Hum...eu não faço ideia Nicolas.Não faço a mínima ideia.”

“Poxa vida!Eu pensei que você sabia...”

“Hahaha!Minha doce criança!Eu não sei de nada.Eu só sei que nunca descanso.”

“Hum...que pena...”


Ela saiu da minha cama,ficou me encarando com um sorriso erótico(de fato ela era muito linda) e disse
“Estou indo.Mas eu lhe desejo uma boa noite.E não se esqueça de mim”

Eu olhei pra ela e dei um sorriso cínico.
“Não,não vou te esquecer.”

Ela riu e disse
“Que bom,pois você sabe que eu não vou esquecer de você.Cedo ou tarde eu vou te pegar.Ah como vou...”

Ela riu novamente e saiu através da minha janela.Eu olhei pra fora e ela sumiu.

“Hum...que criatura estranha...”Pensei comigo mesmo.

De qualquer forma,aqui estou eu.Dormindo com as trevas,recebido pelas luzes do amanhecer futuro.Vendo os meus queridos morrerem,e conversando (de vez em quando) com a Madame Morte.