Bom,quem é de São Miguel Paulista,Vila Curuça,Jardim
Robru,sabe onde fica o cemitério da saudade.Um cemitério gigantesco que fica do
bairro de São Miguel.Lá vários amigos meus morreram,assim como pessoas que
moram nessas redondezas.Acredito que quando eu morrer eu vou ficar nesse
cemitério,assim como alguns dos meus entes amigos e parentes.Naturalmente a
gente não gosta de ir num cemitério alem de visitar pessoas queridas que estão
a sete palmos embaixo da terra. É um lugar naturalmente seco,frio e cheio de
sentimentos de saudades e tristezas.Possui inúmeros túmulos onde cada ser
humano possui uma historia diferente.Do cemitério da saudade é um cemitério
gigantesco,cheio de túmulos brancos e outros decorados,possui uma igreja
monumental e belíssima dentro de umas das entradas,e como eu afirmei antes é um
cemitério bastante conhecido pelo bairro São Miguel.Eu considero o nome quase
sintético,como um riff de guitarra da banda de rock Rolling Stones:Cemitério da
Saudade.Oras,oras...o que a gente deve sentir quando vai ver um tumulo de
um querido falecido é saudade.
Nesse texto eu quero sintetizar uma saudade nostálgica e
sentimental,se os meus queridos leitores acham que eu estou sentimental
demais,eu peço desculpas mesmo,porem eu não quero apenas falar de uma dose
relevante de saudade,assim como eu quero falar de
perda,descoberta,curiosidade,e infância. Bom,com isso informado,eu vou adiante
com o meu texto falando um pouco sobre o cemitério da saudade.
Eu tinha 5 anos,era criancinha.A minha característica é
típica de qualquer criança de 5
anos:tímido,pequenino,inocente e curioso.Daquela época o que a gente queria não
era mulher,nem xoxota,nem putaria ou coisa do tipo.O que a gente queria era
jogar Street Figther 2 o dia inteiro,ficar com os amigos,não querer tomar
banho,e ser um dia um grande super sayajin. Com essa inocência admirável nesses
tantos poucos anos,eu Sr Thomas fui noticiado do dia 20/07/1999 que a Vovó
Matilda morreu!Sim,a querida e doce Vovó Matilda morreu!Eu fiquei chocado com
aquilo,não porque ela morreu,mais sim pelo fato de que a minha mãe estava
chorando enquanto conversava com a minha tia Regina.
Minha mãe desligou o telefone e foi chorar do quarto dela.Eu
a segui e perguntei pra ela o que aconteceu,ela ajoelhou até mim e disse
“Querido Thomas,a vovó Matilda morreu” eu fiquei encarando e perguntei o que
seria o conceito de “morrer”.”Como assim
morreu mamãe?”
Ela continuou olhando pra mim e disse que quando alguém
morre,ela vai embora pra sempre,e nunca volta.Eu fiquei com medo e
perguntei”Ela foi embora?Não vai voltar nunca?” Ela apenas disse”Bom,não vai
voltar aqui,da vida sabe?Nesse mundo que a gente esta”.Depois disso eu
perguntei se eu também um dia vou embora ,minha mãe apenas disse”Sim,só que um
dia a gente vai se encontrar”.Aquilo me aliviou,mas claro me deixou um pouco
triste. Eu pensei da Vovó Matilda e fiquei triste,pois quem ia fazer aqueles
doces gostosos?Quem ia nos fazer rir e dar um pouco de gentileza?Quem vai convidar
todo mundo pra ir da casa da vovó e se divertir?Quem vai servi os prato
dela?Quem vai contar uma nova piada boba?Quem vai ter o mesmo carisma que a
vovó Matilda?Ninguém.
Bom, dois dias depois
da notícia,a família toda foi do cemitério da saudade para comparecer do
funeral.Pra mim antes,o cemitério da saudade era apenas um jardim,mas
não,segundo a minha doce mãe:”Cemitério da saudade é uma espécie de jardim onde
a gente deixa as pessoas embaixo da terra” .Eu não entendi muito bem,eu
perguntei pro meu pai e ele disse que é um lugar onde guarda pessoas mortas,que
já foram embora espiritualmente ou coisa do tipo.
A gente,eu meu pai,e minha mãe entramos do cemitério,eu
perguntei pra minha mãe se eu podia ver
o corpo de minha vó,ela disse que não,que eu sou jovem demais pra ver um
corpo morto,e a vovó Matilda já foi enterrada.Todos nos fomos lá,visitar o tumulo da vovó,ouvir o padre falar algumas
coisas sem sentido sobre Deus,redenção ou coisa do tipo,e Deus até fez uma
chuvinha amarga para nos abençoar.Só que a maioria ficou chorando,e eu não
sabia o que fazer daquele momento,se eu rio ou choro de tristeza.Eu não
entendia.
Bom,a gente foi embora
do cemitério da saudade,e quando chegamos do portão a gente viu outro
grupo de família carregando o tumulo de outra pessoa que foi embora,eles também
estavam com rostos tristes e carregados de flores.Do tumulo de minha vó tinha
um monte de rosas ,rosas vermelhas.Eu perguntei porque diabos as pessoas davam
rosas ou coisas para pessoas que já foram embora fisicamente.Bom,naquela época
eu não consegui responder,e os meus pais estavam triste demais pra falar sobre
o assunto,principalmente a mamãe que perdeu uma mamãe.
A resposta ?Bom,eu consegui ter só ontem,enquanto eu vi o
tumulo do meu amigo Sam,que morreu uma semana atrás.Eu dei rosas pra ele,e
falei de algumas historias bonitas que nos vivemos,e eu dei um livro de poemas
do Alan Poe,o poeta preferido dele.Porque a gente faz isso?Porque a gente faz
isso?
Porque eu percebo que os cemitérios só servem pro vivos,os mortos
não sei se eles se preocupam.Eu tive que levar a mãe do Sam,ela chorou e citou
alguns poemas,e isso era algo da qual ela não estava habituada.E sim,ele foi
enterrado aqui em zona leste,em São Miguel ,a terá onde os sonhos são afundados
pela brutalidade do trem da noite.
Com esse texto,eu deixo o cemitério da saudade,assim como eu
deixo em paz alguns amigos,familiares ou pessoas entes queridas que já se
foram.Não se esqueçam meus amigos:a vida é um grande romance onde Deus vai
colocar o ponto final,ou então a gente mesmo claro.Trata-se de um clichê,mas de
um clichê verdadeiro,e eu acredito que do final de contas eu só escrevo
verdades,por mais exagerados que é a minha escrita,personagens,ambientações,é
que quem define os nossos destinos é nos mesmos saca?Oras,oras,o que eu mais
vejo hoje em dia é pessoas querendo se matar,se jogar de uma ponte ou cortar os
pulsos,e culpar a mãe,a ex namorada,ou então culpando o todo poderoso.Temos
que ser o capitão do nosso navio,devemos
ser autores dos nossos romances,e os protagonistas de nossas vidas.Devemos
abençoar todas as manhas de hoje e de amanha,devemos abençoar todas as ruas que
se abram as portas para a gente andar,devemos abençoar todos os beijos que
recebemos,devemos abençoar todas os dias e noites,devemos abençoar todas as
nossas guerras intimas e pessoais,devemos abençoar todos os Deuses e
Demônios,devemos abençoar todos os vagabundos,trabalhadores,donas de
casas,palhaços que perambulam nesse mundo,tentando(a sua maneira)viver a grande
e curta vida.Devemos abençoar todos os anjos que estão agora nos observando e
nos amaldiçoando,devemos abençoar todas as rezas que fizemos e não
fizemos,devemos abençoar todas as nossas mães,pais,professores,inimigos de
guerra,concorrentes,adversários,amigos.Eu devo abençoar a vó Matilda,os seus
doces preciosos,o seu sorriso doce como açúcar,o seu amor por si mesmo e pela
sua família.Eu devo abençoar o Sam,o garoto de São Miguel,jovem e louco como
dinamite,correndo o risco de morrer e de viver ao Maximo,lendo os seus livros de
poemas e delírios cotidianos que os poetas malditos como
Poe,Rimbaud,Velarie,Keruoac,e entre outros viviam em suas épocas.Devo abençoar
essa historia,e o cemitério da saudade.Assim como eu devo abençoar a mim mesmo
e a vida que eu ainda possuo.
Agora apenas devo abençoar mais uma vez aquela chuva
mansa,rouca e tímida que se espalha sobre a manha,os choros dos deuses e dos
anjos me amaldiçoando e me salvando.E como simples fato de eu terminar esse
texto,eu devo abençoar o meu futuro tumulo,a minha futura rosa de partida,e a futura terra me engolindo.
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