Capitulo 1: Um vira lata e uma princesa esquecida do mundo.
Dizem por ai que o mundo é um cão.Sim,acho que concordo
com isso,apesar de que essa frase foi dita por um ser humano. Eu sou um cão,um
cão considerado vagabundo,sem lar,tirando as ruas de São Paulo.São Paulo é meu
único lar.
Mas ela também é uma terra de malditos.
Eu ando,lambendo o cu e
comendo lixo industrias das ruas da Republica.Pra mim Republica é uns dos
bairros mais tristes de São Paulo:As putas ficam largadas,bebendo uma
cervejinha em um bar fedorento,os hotéis vagabundos são lavados por senhoras
solitárias,que já deve ter vivido muita merda,os centros artísticos passam peça
decadentes para velhos chatos verem,da praça roosevelt tem um cinema meia
boca e saraus pretensioso de poesias,assim como aqui tem lojas,shoppings,livrarias
cultas,mais cheia de pessoas vazias,aqui possui mendigos,afro decadentes
revoltados,camelos,músicos frustrados tentando ter sucesso ,e os cães como eu
leva pé da bunda de todo mundo.
Eu vou em todo lugar das
ruas da Republica.Vou em alguns bordeis e tento dormir lá,só que eles me chutam
pra fora.Assim como eu tento ver se consigo alguma coisa decente pra comer em
uma padaria,igualmente,de vez em quando eu ganho um pão do dono para que
eu fosse embora rápido,restaurantes igualmente,não consigo muita coisa,apenas
alguns restos.O engraçado é que é uma mistura interessante nessa cidade
que eu vivo:Aqui tem lixos,assim como tem luxuria.Possui cafeterias
chiques,assim como existe barzinhos vagabundos.Dos dois tipos de lugares...eu
sou expulso.
Fico aqui,sozinho,com
alguns cães igualmente vira latas como eu.
"E ai cara?Como foi o
dia?" Pergunta o Denis,cão malandro do bairro, ele consegue ter algumas
cadelas em seus encalços,assim como de alguma forma consegue ter um pouco de
comida.Conheço ele há 5 anos,cachorro velho,sabe das coisas.
"Estou sobrevivendo
Denis,sabe como é,o mundo dos homens não é fácil" digo pra ele.Ele
olha pro um mendigo deitado do chão, sem comida que nem nos,e disse "Se
nem eles mesmos consegue conviver igualmente,imagina como ele vai tratar de
outra espécie de animais."Quando ele disse isso,pareceu um cão raivoso,e
ao mesmo tempo amargurado,os dez anos de sua longa vida mostra que ele se
transformou eu um xama superior:se transformou em um romântico,ou pior: num
filosofo.
"Sim,os humanos são
fodas.Eu ouvi dizer que já teve varias guerras da espécie neles.Os motivos são
difíceis de dizer,parece que se tratam de comida também,as vezes de centros de
energia como petróleo,sei lá mais o que...é uma raça foda.Mas eles dizem que o
mundo é um cão.Os cães também são fodas,a maioria castrado sabe?Eu conheci um
cão lá do centro da cidade.Ele era bonito,limpinho que nem nos,só que tinha uma
coleira.O coitado ficava trancado de casa e só obedecia a patroa.Pra mim isso é
horrível.Não quero ter uma vida assim.Prefiro ser um vagabundo malandro.A
maioria dos cachorros são idiotas.Não interessa a raça.Ou são muito bobos,ou
muito idiotas."
Ele fala isso e tenta
lamber uma ponta de um cigarro jogado da rua.Achei estranho.Eu perguntei pra
ele o que ele acha sobre os gatos,ele disse"São vadios e vadias,que nem
essas garotas de programas que a gente vê das ruas,nada mais".
A gente riu um pouco,e
brincamos do meio da rua.
Depois de um tempo
apareceu o Valmir,sim esse era o nome nele.Segundo dizem,ele era o cão que
tinha casa,uma casa pobre em zona leste.Ele se chamava Valmir pelo fato de que
era um tributo ao um pai falecido do dono da casa. Ele se lembrava disso,o
resto ele esquecia.Contava historias diferentes cada dia,tem dia que ele conta
que a casa do dono foi queimada e ele foi abandonando ,outra historia
dizia que ele simplesmente foi jogado nessa sarjeta,nesse lugar tão longe de
guaianazes. Difícil ...ele sofre amnésia em relação ao seu passado.Mais ele não
se importa,na verdade ninguém se importa.Vivemos o presente.Sempre o
presente.
Eu até esqueci o que eu falei do verso anterior.
"Sim,a cadela era
gostosa!Era gostosa e tudo mais,só que tinha um defeito:ela achava que eu
era um idiota" disse Valmir,relatando os fatos."E também era uma chatice,ela
falava toda hora da dona nela.Falava o quanto ela era culta,que ela era
esperta...mais esquece.ha!Olha lá aquela cadela!Acho que é a Mona !Ei!Mona! Vem
aqui!"
Mona,outra vira lata,meio
meiga,cuidadosa,veio até nos.Era uma cadelinha suja,solitária,e meio
alegre.Toda pretinha por causa da sujeira que ela fica depois de
procurar algumas coisas do lixão.
"Oi queridos,tudo
bem?" ela da uma lambida em todo nos.Tudo isso em uma tarde.Nos quatro
conversando sobre muita coisas.Porem a fome bateu de novo,eu tinha que arranjar
comida.
Eu sai da conversa.Agora
estou vendo onde eu arranjo comida,vamos ver...será que China in food pode dar
alguma pra mim?Vou ver lá...
"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA"
Que foi isso?
"Batuf !"
Droga!Alguém me
atropelou.Desviou a tempo só que atropelou a minha perna .Minha perna...esta
quebrada.Oh deus...oh deus...calma aí...que menina é essa?
"Oi ...você ainda tá
vivo?"
Ela toca do meu
pescoço...mãos macias e gentis.Depois ela berra pedindo ajuda,e eu todo
sangrando,acredito que o carro era nela.Deus...que merda aconteceu?Estou
sentido muita dor. Acho que quebrei a minha perna.
Deixe eu abrir os meus
olhos ....
Oh quem é você?È uma
mulher bonita e doce demais pra ser verdade.
Será que é realidade
?
"Tudo bem,deixe eu te
levar pra casa"
Ela me agarrou,colocou
dentro do seu carro e levou pra sua casa.Ela é uma mulher
bonita:usava um vestido decolado,cabelos claros e olhos igualmente claros.O
corpo magro porem escultural, é uma felina bonita demais.E era obviamente
humana.
"Desculpe
cachorrinho,desculpe mesmo" disse ela,dirigindo com desespero.
E eu juro que imaginava
que estava preste a presenciar o paraíso,a terra de ouro,a terra de alguma
coisa.Qualquer coisa,que não seja aqui.Estou cansado de São Paulo,de andar por
ai como um cão vagabundo e sem destino.Eu queria ter uma casa,viver
decentemente e possivelmente ver os meus amigos morrendo em paz...
Porque eles dão nomes pra
nos?
Porque?
Parece que quando ele nos
da esse costume de nomes,nos transformamos em números,expressões vazias de
vida.
"Eu vou cuidar de
você....eu já fui enfermeira,um bom tempo atrás,ates de...meu deus!Estou
conversando com um cachorro fedorento!De onde você é ?Você é bonitinho,todo
cinza e cara de cachorro sem dono.Mais é fedorento demais"
Bom,pelo menos ela me
chamou de bonitinho.Melhor elogio que eu ganhei.O melhor elogio...de hoje.
Oh a minha perna esta
sangrando,apenas sangrando,a minha perninha que já andou muito nessa terra.Eu
comecei a chorar,e a moça estava ficando cada vez mais desesperada,e eu já
estava sonhando com Deus.
A dor era grande,o
suficiente para não me fazer levantar,ou querer viver.Sim...a vida dói demais.
"Pronto chegamos em
casa" disse a moça de cabelo claros e olhos igualmente claros,parece
com...qual é a definição mesmo?"Anjo"?
Existe um anjo Cão?
Ela me segurou de
novo,estava chorando.E ficou olhando pra mim,eu ainda estou chorando,a dor é
grande."Tudo bem cachorrinho...você não vai morrer.Só a sua perna que esta
mal..." diz ela,olhando pra mim com os seus olhos hipnóticos.
Ela andou em uma
escada...não sei dizer...esta muito escuro aqui.Chegamos do apartamento nela.È
limpo,grande,cheio de cds,livros e ao mesmo tempo é vazio,um pouco vazio a
sala,porem o banheiro parecia o paraíso.Ela me deixou da banheira,e disse que
ia pegar os primeiros socorros. Ela pegou rápido e enfaixou a minha perna e
colocou um remédio da qual eu não sei o nome.O sangramento parou por enquanto,e
claro...eu não ia morrer.
"Pronto
cachorrinho...agora deixo ver o que eu faço contigo...que horas são?Oh sim,já é
sei da tarde.Você tem um lugar pra morar?Oh claro que não,da pra ver que é um
vira lata deixado das ruas sujas e futuristas de São Paulo.Maldito ano!Maldito
ano!"
A moça parecia meio
louca.Ficou da banheira,e eu do colo nela,quando ela falava os seus olhos
simplesmente pareciam que ficavam cada vez maiores, e a sua voz cada vez mais
potente e ao mesmo tempo desafinada.
"Esquece!Eu estou
louca!"
Verdade.Esta louca
mesmo.Mas de alguma forma ela parece de fato de ser uma pessoa especial.Não sei
dizer o porque,mais eu sinto isso.
"Bom,você vai ter que
ficar aqui,aqui em casa.Deixo arrumar algumas coisas..."
Ela me deixou da banheira
deitado.Ela estava arrumando um local para eu dormir da sala grande nela.
Ela ficava falando sozinha
sem parar.
Ela tinha um colchão
pequeno,e colocou do meio da sala,ela disse em alto e bom som que o pequeno
colchão é pra mim.Só que quando ela falou isso,ela simplesmente parou de falar
por um momento e andou até a banheira.
Ela ficou com olhos quase
lacrimejados e disse "Oh...você não tem lar,e nem banho...acho que vou ter
que te dar banho".
Sim,ela falou de
banho.Alguma coisa estranha dentro do meu mundo.É uma coisa nova,como uma
nostalgia de ver um panfleto utópico de comercial de Shampoo.
"Ah,o meu nome é
Celine,sim...Celine.Minha mãe disse que é um nome francês"
E ela colocou água da
banheira,enquanto ela me oferecia colo,como se eu fosse um bebê.Um maldito e
novo bebê nascido para o mundo.Depois disso ela me coloca delicadamente
da banheira,continuando a me segurar pela parte de baixo de meu corpo,para eu
não me afogar.
"Tudo vai ficar bem
cachorrinho.Não se preocupe" diz ela colocando sabonete do meu
corpo inteiro.
Ela faz até uma canção de
ninar,a sua voz era um pouco desafinada,possivelmente dado a sua possível
loucura,mais do fundo de seu canto tinha uma fragrância
melódica,doce,agradável,e angelical.
E eu penso novamente se
existe um anjo cão
ou pior
se existe de fato um anjo
humano
como se a tal lenda de
fato fosse verdade.
Ela continua cantando,me
lavando,tirando toda a sujeira do meu corpo imundo e escroto.Sou um cão
vagabundo,de um mundo de cão...mas agora estou limpo,como um maldito príncipe.
"O engraçado é que
você nunca me mordeu até agora...você é bonsinho"
Depois do banho ela me
enxugou numa toalha.Eu fiz carinho da barriga nela,ela sorriu.Foi estranho, mas
já nos transformamos em amigos.
"Qual é o seu
nome hein?" Disse ela olhando dos meus olhos,e eu não sabia
responder.Os meus amigos tem nome,mas eu não.
Eu lati,de impulso,sem
pensar.Oras bolas...eu não penso,sou um animal certo?
"Que foi?Ah você
nunca teve um nome!"
Ela queria me dar um
nome.Tentou vários nomes,tentei demonstrar do meu latido que não gostei.
"Oh..esquece.Amanha
eu te escolho um nome...na verdade não sei o que fazer.Apenas dorme
cachorrinho,até amanha"
Eu deitei do meu pequeno
colchão,ele estava quente e gostoso de dormir.
Eu estava tentando,mais eu
ouvi um som.È da Celine,gritando e delirando,conversando com alguém do
telefone.
"Porra!Me deixa em
paz!Eu vou te dizer mais uma vez:Não vou fazer nenhum filme!Nenhum filme!Estou
cansado nessa vida!Eu quero mais!Não quero mais em ficar sentando em cima de
pirocas !Vai se fuder seu idiota!"
Ela desligou o
telefone.
Eu fiquei preocupada e
lati.Ela disse pra eu ficar quieto.
" Cala a boca
cachorro!Seu vira -lata!.Você acha que é melhor que eu?Eu pelo menos tive riqueza,tive
gloria e dinheiro.Agora sou uma puta decadente! Oh deus...eu sempre
fui!"
Ela disse isso chorando.
Ela foi até
mim,olhou bem dos meus olhos,e eu parei de latir vendo aquele olhos grandes e
belos.
O ser humano é a criatura
mais louca da terra, é um mamífero se migrando em terras da qual eles mesmo
se destroem,e acima de tudo ,o ser humano é um animal confuso.Porem
agora,eu sinto algo por ela.
Ela disse
"Desculpe.Eu sou louca mesmo.Sinceramente eu queria ser um cachorrinho
bonitinho também"
Eu faço um carinho da
barriga nela,e ela me abraça.Sim,somos dois esquecidos do mundo.
Ninguém liga se ela
chora,só eu,e igualmente ninguém liga a pessoa que me atropela,a não ser a
própria pessoa que me atropela.
E eu nesse momento eu
queria ser humano.Juro por algum deus-cão que eu queria ser humano,para apenas
disser pra ela "Tudo bem,tudo bem...."
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