domingo, 19 de junho de 2016

Virginia Wolf e o seu ultimo almoço comigo





Eu já me  tornei em um homem velho,e naturalmente já acrescentei certos temperos a minha pessoa:amargo,cínico,um pouco feliz ,e um pouco melancólico.A escrita...oh deus,a escrita,ela sempre foi essencial,ela sempre foi elementar.Não sei se é algo que pode mudar o mundo,mas ela é importante,e todos sabem disso.As vezes ela é cruel,crua e nua,as vezes a gente como leitores simplesmente vemos um poeta se incinerando a si mesmo,afogando em sua própria dor,alegria e redenção.Somos testemunhas,somos vitimas,e somos crianças tolas e inocentes.Pois choramos ao anoitecer do dia,e necessitamos de acolhimento,e um pouco de amor.

Virginia,Virginia.Você com o seu pouco tempo de vida envelheceu bem,envelheceu como uma criança sorridente,e talvez nos deu um truque tão estranho,da qual a gente meio que não entendeu.Porque você se jogou do rio?Porque achou necessário?Bom,o que eu sei é que não foi a tristeza,não sei...parece que foi uma espécie de “jogada “poética,ou então um truque de mágico onde o fim  é trágico,porem ele afirma com uma voz firme e doce”Não queridos,isso não é trágico,é belo”.

Como eu disse antes,estou velho demais pra falar sobre ela.A minha vida foi muitas coisas,foi varias reviravoltas,varias aventuras,vários inimigos,vários amores...varias decisões políticas,vários artigos críticos,oras criticando palhaços,oras questionando os fundamentos do gênios,e oras expondo a minha paixão pela literatura e escrita.
Mas com essas que possivelmente pode ser umas das ultimas escritas,eu quero deixar um retrato minucioso de Virginia Wolf,e se possível meu filho,eu quero mostrar pra você e pra mim,que Virginia Wolf era de fato uma criatura admirável,e sim...era uma grande escritora.

Eu comecei a minha carreira como critico cultural criticando algumas das personagens femininas de Virginia Wolf.Eu achava Elas,as mulheres de Virginia,muitos frágeis,ou sentimentais.Eu fiz um artigo só falando nisso ,das personagens “Fragilizadas” da senhorita Wolf.Depois de uma semana após a critica,eu recebo uma carta,e sim,uma cara nela mesma,a autora dos livros da qual eu sempre critiquei.Ela disse que a minha linguagem era exemplar e belo,e queria conversar comigo.
“Senhor Rolfe,apesar das consideradas criticas que o senhor fez em relação ao meu livro,eu queria te convidar a ir da minha casa.Não sei se o senhor sabe,mas eu gosto muito dos seus artigos,desde a sua analise da obras de Dostoiévski e as suas analises sobre a literatura clássica e geral.Eu considero a sua critica a respeito dos meus livros fora de minha opinião,porem eu aprecio bastante a sua forma de escrever,e o modo preliminar e eficaz de criticar as minhas personagens,falando mal ou bem dos meus livros,eu apreciei pelo simples fato de que o Sr esta falando de mim.Como eu disse antes,venha até a minha casa,estarei  eu e o meu marido te esperando ,até,abraços”.

Eu li aquilo e fiquei surpreso.Pensei o porque Virginia queria falar comigo,eu que era (da época) uns dos críticos que mais criticava duramente a sua maneira de escrever e tudo mais.Eu da época,era jovem e arrogante,achava que isso seria uma forma de Virginia me convencer a  eu gostar dos livros nela.Eu imaginava ela tentando  me abordar dizendo o quanto eu sou bom,so para eu gostar um pouquinho do livro nela.Sim...eu pensava assim da época,os jovens sempre são idiotas,e sempre serão.

Quando eu fui da casa nela,o marido simpático nela me acolheu,e ele chamou ela,ela desceu a escada,e me cumprimentou. Eu fiquei fascinado,porem escondi isso,tentei manter a minha considerada simpatia e honestidade intelectual.A gente tomou um café,enquanto marido nela foi fazer uns trabalhos la fora.Virginia...como disse de como ela era?Bom,tem todo aquele rosto que tecnicamente não  é um rosto bonito,mas um rosto rico,aquele rosto duro,pálido,com um nariz icônico,e olhos azuis sensíveis,e eu com o passar do tempo,percebi que aqueles olhos azuis tinha muitas historias e maravilhas.

Quando tomamos café,ela ficou olhando pra mim,com os seus olhos fixos e claros.

-Sinto um renunciável prazer de a senhorita ter me convidado
-Eu que sinto Sr Rolfe,espero que esse café não tome o meu tempo.
-Não que isso...
-Sei que o senhor sempre escreve novos artigos do seu jornal.
-Sim,mas...eu estou falando com a Virginia Wolf,a considerada maior escritora do mundo.
-Eu sou considerada a  melhor escritora do mundo.Eu me considero boa,mas sinceramente nem tanto,e acredito que o Sr tbm acha isso não?
Ela deu uma risada fraca e aguda.
-Senhor Rolfe,não fique tão serio.Estou brincando,não vim aqui para te matar ou coisa do tipo...eu estava até pensando sabe?
-Você não é a primeira a querer isso
A gente deu uma curta risada e bebemos café.

-Porque estou aqui?
-Porque você quer estar aqui certo?
-Verdade....
-Verdade.Relaxe Sr Rolfe,relaxe...eu sou sua fã sabia?
-Você falou isso das cartas...porque gosta da minha escrita?Se fui eu que o critiquei?
-Honestidade.E honestidade é algo valioso hoje em dia,principalmente da era pos guerra.Eu vi algumas coisas,vi tantas coisas,o suficiente para contar historias,indepedemente ruins ou boas. E tecnicamente o holocausto,ou a descoberta do holocausto é algo horrível e sinceramente a gente pensa que o mundo de fato vai acabar,e o profundo talento da animália humana você tende a acreditar das honestidades,ou das palavras honestas,pois o mundo  parece sombrio demais,e estamos meio que do mundo das sombras,onde não sabemos o que é certo ou errado.

-Nesse meio que vive as suas personagens?

-Hum...não sei Sr Rolfe .Acho que elas vivem do que a gente chama de vida.A profunda deliciarão do sonho e realidade,a sociedade que criamos,os espelhos que nos ilumina,a vida...

Depois,simplesmente falamos de coisas banais e divertidas.Ela fala da vida com o seu marido,e a sua rotina calma de produção literária, eu contando a minha vida nova da Europa e tudo mais.Ela simplesmente era graciosa e cheia de vida,apesar de  que alguns momentos,principalmente quando ela filosofa sobre certas condições humanas,ela se transborda do seu PE do mar da melancolia.
Eu e ela,junto com o seu marido,grande homem que sempre apoiu ela,nos tornamos amigos.Por incrível que pareça foi algo natural,apesar de que eu sempre critiquei as personagens de Virgina Wolf.Com o tempo eu mudava,eu pensava que elas mostravam as suas fragilidades,e possivelmente se fortalecia com  o tempo.Não sei...eu daquela época continuava a criticar a escrita nela,coisas simples como a formação nela dos parágrafos,ou a filosofia literária.Para nos (acredite) era um esporte,e tudo mais.Quando me mudei  dentro do bairro nela,a gente se via de vez em quando  do mercado e tudo mais.”Oh Sr Rolfe,o senhor e as suas criticas acidas,não acha que tem que mudar um pouco a sua linguagem?” e eu digo”So se você mudar querida”,coisa nesse tipo,brincadeiras sarcásticas.


Um dia,o ultimo livro nela foi publicado.Eu acompanhei de longe  ela escrevendo o livro,ela simplesmente estava passando por uma crise existencial e melancólica.O marido nela disse que ela estava obcecada em terminar o livro,só que simplesmente não conseguia. Ela estavam em conflito consigo mesmo.Ela acordava as noites,andavam do seu jardim e ficava do seu quartinho,pensando o que escrever do próximo capitulo.

Um dia nesses,ela me ligou,e disse que queria almoçar comigo.Ainda estava sofrendo com o livro,que futuramente seria a sua obra prima.Ela queria o almoço imediatamente.


Ficamos naquele restaurante, e ela estava com aquele olhar:Sim aquele olhar tenso,enigmático,e sofrido.Aquilo era o fruto de sua literatura,e de sua filosofia,de sua poesia...e possivelmente do seu suicídio não depressivo.

-Sr Rolfe,estou terminando o meu livro...
-Isso é bom Virginia
-Sim,mais eu sofri tanto pra fazer esse livro,senti dias tristes e solitários
-Seu marido me disse
-Sim,e eu sei que o livro esta bom ,so vim aqui...pra dizer...

-Dizer o que Virgina?

-Um possível Adeus,eu acho...

-Possível Adeus?O que você esta falando?

-Não sei porque,mais eu acho que eu vou embora,não sei porque mais eu sinto isso.Sabe...todo o meu caminho já foi trilhado
-E o seu marido?Como ele vai ficar?
-Vai ficar bem,com o tempo ele vai ficar bem

-Tira isso da cabeça Virginia,isso não  é legal,acredito que o seu romance vai ser um sucesso,e você vai sobreviver.
-Sim,claro-Virginia deu um sorriso pra mim,e disfarçou sobre isso.Da época eu sai que aquilo era um delírio,coisas de escritores.A maioria de nos  meu filho...somos fardados a loucura.Deve ser por isso que eu me tornei critico,pois o critico parece ter um trono mais racional e frio,ele sim participa da cena  literatura,mas não participa da escrita dos romances,das filosofias ou coisa do tipo,ele apenas analisa.

Virginia falou de coisas rotineiras,falou da visita que os sobrinhos fizeram a ela e tudo mais,esqueceu daquele assunto.Eu também esqueci,eu queria contar pro marido dela,sobre aquele assunto,porem eu não queria assustar a ele a toa,e eu acreditava que isso era um delírio da parte de Virginia,coisa normal de escritores.


“Todos eles,malucos.Sorte que eu sou critico” Pensei eu,quando eu fui dormir,o que eu fiz do dia seguinte?Viver o meu dia,possivelmente escrever novas linhas criticas,e claro,falar de maneira critica e aguçada o novo livro de minha velha amiga.Acredite,isso era bom,pois do fim a critica não passava de um esporte argumentativo,porem as áreas de criticas as vezes pode ser cruel demais.Eu defini o livro”  Betwen the Acts “ como um romance delirante,e um pouco paranoico sobre a segunda guerra,que aquilo era “uma alusão de delírios pseudo poéticos e broxantes sobre a segunda guerra”.Eu me senti bem quando falei aquilo,apesar de que a guerra naquela época já estava num aspecto profundamente sombrio.Mais como eu disse antes...eu era jovem,e não sabia das coisas.Mesmo que a Inglaterra esteja da época ainda quebrada  eu defini o romance como broxante ou algo ridículo demais,como se aqueles sentimentos em torno do romance era uma espécie de outro mundo,algo andrógeno ou que estava fora dos sentimentos cruéis e pertinentes da realidade. Bom,com o tempo passando,eu lembrava vagamente do jantar,e do fato de que ela disse “Adeus”,eu pensei em falar com Leonard,o seu querido marido e amigo,para ver se ela esta de fato bem,bom..eu esqueci naquele assunto,e eu  apenas continuava vivendo,continuando com as minhas criticas e resenhas.Porem do dia 28 de março eu descubro uma noticia triste,sim...andando pelo jornal,com olhos vazios e apáticos,surge a figura de Bernad,o editor do jornal da época,e meu amigo da época,ele foi até mim e disse “Tenho uma noticia a relatar a você:Virginia Wolf morreu...ela se matou “.Quando ele disse isso,eu apenas senti uma imensa dor do peito.Naquela época,eu,Leonard, e boa parte da Inglaterra sabia dos acessos de loucuras de Virginia Wolf,mas Leonard,e até eu...tínhamos uma esperança sobre a vida de Virginia.Aquela noticia me deixou cabisbaixo,e obviamente me deixou profundamente triste. Eu pensei que eu poderia ter feito algo,e isso claro,doeu até as partes estranhas e obscuras de minha alma arrogante e jovem.”Eu devia ter avisado a Leonard”,foi o que eu pensei. Bom...aquele tipo de reflexão não levava a nada,a não ser a dor.Por fim,os anos se passam,e a minha escrita foi largada.Da metade da década de 40,eu andava das ruas de Londres,a minha querida cidade natal.Lá...eu via crianças brincando com tijolos de casas derrubadas,vejo soldados cegos sentando a uma escola explodida e fumando um baseado,e claro,eu olhava para o céu cinza,e para o resto da população.Estávamos perdidos,com medos ,e sem destinos.Vimos alguns reinos indo pro inferno,vimos um bocado de gente morrendo,e  uma boa parte de sobreviventes  que era nos.Naquela época,eu parei de escrever criticas,e não sei porque...eu peguei os livros de Virginia,e reli tudo de novo.O sentimento foi diferente...se antes eu achava as personagens de Virginia como pessoas fracas,sensíveis e banais.Percebo um ar de enigma,profundidade e mistério que Virginia carregava em sua literatura,escrita e personalidade, sim...eu sentia uma melancolia e magia.Algo que so daquela época horripilante,onde estávamos a merce do fim de uma grande guerra,e as nossas vidas estavam perdidas...que eu me salvei,ou pelo menos salvei a minha alma arrogante,quando eu li Virginia Wolf.Teve que levar mais de dez anos de  sua morte para eu fazer um tributo a ela do meu livro”A literatura e a vida”,os críticos riram das minhas suposições sobre a escrita,e que claro,era engraçado eu endeusar a Virginia.Eu tentei ou coloquei a suposição básica da escrita:Repetição e inspiração.O resto...foi resto,foi suposições poéticos,riscos absurdos e ridículos...aventuras delirantes,e claro,a critica massacrante e racional.”Talvez uma loucura sóbria seja necessário” afirmo a mim mesmo quando fiz o livro.E isso falo a você meu filho.

Agora,eu devo morrer,claro.E devo dizer que tudo que é mortalmente humano,acaba,e isso não é ruim.Eu so queria ter ajudado a Virginia ou o Leonard.Leonard,mais do que outros,tinha que encarar a vida depois que ela se matou.Até hoje eu me pergunto porque ela tinha acessos de loucura,e porque ela se matou.Não sei dizer...por fim talvez,ela queria acabar com a sua loucura,ou talvez ela estivesse numa mesma posição que eu estou agora:acho que todo romance,bom ou ruim,tem que terminar.

Espero que você viva a sua vida filho,se arrisque,seja idiota,seja tolo e arrogante,mas também envelheça e tenha um bom casamento com Mariane.Ela de fato pode ser uma mulher  de sua vida(ela é lindíssima,não perca ela).Sobre o fato de eu ter falado sobre a Virginia...bom,não quero te converter ao feminismo(Eu até hoje acho isso uma coisa ridícula) ou dentro do pensamento filosófico ou literário,eu só queria mostrar que por trás nesses sorriso gentil e doce que eu possuo hoje,tem varias historias trágicas e sombrias por trás nelas.Algumas banais e tediosas,e outras simplesmente trágicas,que acontece com qualquer um,como essa historia.

Abraços
Do seu velho e querido pai.
Eu te amo.








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