Mais uma vez estava eu de quatro pra SP.Esperando alguma
coisa,comendo alguma coisa,tentando foder alguma coisa,qualquer coisa do
tipo.Uma tarde vazia,sem propósito nenhum da vida,a não ser fugir da
sociedade.Sempre fugir...
A sociedade anda estranha demais,escrota demais.As pessoas
estão doente demais,e eu não consigo lidar com outra coisa a não ser a mim
mesmo.Acredito que eu sou um vagabundo
em termos de se interessar pelo mundo.Nunca me interessei.O mundo é complicado
demais,as pessoas são complicadas demais,a vida se torna complicada demais,e eu tento fugir nessa porra toda.
Tento fugir do transito,das reuniões dos sindicatos,dos
saraus de poesias,das sessões de cinema,da fila do mercado,tudo...
Porém lá estava eu,num bar escondido do mundo.Possivelmente
vendo se alguém consegue me encontrar,ou se alguém esta disponível para me
encontrar.Nada demais.
Eu bebo duas latas de cocas,e depois uma lata de Brahma,e
depois um copo de conhaque.Eu estava descendo,descendo e vendo o nível máximo
de amargura que uma bebida pode nos oferecer.Não tenho nada contra amarguras, e
é por isso que eu gosto do conhaque.O problema da amargura é se ela é aquele
tipo de amargura apática.Por exemplo:a minha mãe esta amarga comigo,porém ela
fica o dia inteiro sem falar comigo e nem olhar da minha cara.Apática,vazia
como vidro,frágil.Eu prefiro o conhaque do que a minha mãe.È mais fácil de se
conviver,e é um tipo de amargura mais favorável,pois pelo menos é um amargura
que da êxtase e adrenalina.O conhaque vai até a minha garganta e queima o meu
peito inteiro,porem parece que ele faz eu me sentir mais livre,mais leve,mais
manso.È uma sensação gostosa,e incrível,como levar um soco de um Ali e depois
levar uma massagem de uma puta gostosa.
Depois eu pedi mais um copo de conhaque,e veio aquele bebum
de sempre.O nome dele é José,e ele é um bebum.Só isso que posso dizer.O mundo
esta cheio de
suicidas,homicidas,pedofilos,estupradores,escravos,empregados,políticos,policiais,mendigos
e bêbados.Ele é um bêbado.Mas um bêbado chato.Ele fica do meio do bar cantando
Beatles e pedindo pinga.Ele é tão chato que eu pago pra ele,e ele fica feliz.
Depois toca uma musica,uma musica do radio.Capital
Inicial.Detesto essa banda.Porém aparece a dona Clenilda dançando ouvindo a
musica.Acho que o nome da musica é “Nastácia”.Umas das musicas mais idiotas do
mundo.Porém a Clenilda gosta nessa musica.Ela me pediu pra eu dançar,mas não
aceitei,apenas pedi mais um copo de conhaque.
O atendente deu,olhou pra mim com uma certo nojo e voltou a
limpar o balcão.Eu não me importei,era apenas mais um infeliz do mundo.Sim, o
mundo também esta cheio de gente infeliz,e eu faço parte delas...
Olhando da rua a frente do bar,uma rua vazia onde só passa
caminhões,eu pensei o que me faz infeliz.Eu pensei em varias coisas,mas pensei
um pouco da Caroline.Caroline foi embora.Se ela não fosse pro Rio,ela estaria
aqui,conversando comigo.
Ela falaria sobre Freud,e depois sobre Karl Max.Ninguém
suportava os papos dela,só eu.Mas ela era uma garota legal,era uma mulher
legal.
Quando a Caroline ficava triste,ela ia até mim.Agora ela
deve estar do rio,indo atrás de outro idiota.
Ela era bonita,genuína,inteligente,e ao mesmo tempo
sozinha.Tinha medo do escuro,tinha medo da chuva,do bicho papão e do Hitler.
Ela achava que o Hitler ia voltar.
Enfim...
Ela era um boa companhia,e isso é difícil do mundo de hoje.
Mas sabe...essa coisa é bonita,e as vezes trata-se de um
fato universal que as vezes esquecemos.Acho que essa dor,esse descompasso,essa
coisa de sentir saudade,e essa tristeza que Caroline e eu sentimos...bom...é
meio obvio...apesar de que as vezes parece que o mundo esquece,mas é algo
universal.
O Bar esta cheio de pessoas assim.Acho que os bares estão
cheio de pessoas cansadas,cansadas de alguma coisa.Cansadas do mundo,da rigidez
da rotina,das consideradas obrigações que alguém falou que devemos fazer,dos
mil chefes chatos ,dos mil lideres pacifistas,das milhares de possibilidades de
fim do mundo,dos evolucionistas,dos criacionistas,dos debates públicos e tudo
mais. Cansados e solitários.Perdidos do mundo,devorando as vezes beiradas de um
prato como única forma de sobreviver.
Tanto a Clenilda,tanto o bêbado,o balconista mal humorado,e eu...somos figuras cansadas e perdidas.Perdidas completamente...
As vezes eu fico tão perdido que eu tento escrever sobre a crise da minha família,ou sobre a falta que sinto da Caroline,ou sobre o quanto me sinto mal vendo o mundo girar,ou sobre viver uma tarde do bar.Mas a perdição é tão grande que eu erro tudo.Inauguro a arte do errante,a bala mirada do cego,o mijo proferido por Zeus,o esperma desperdiçado do cachorro castro e entre outras coisas. As vezes eu erro as silabas,coloco as virgulas dos lugares errados,confundo o passado com o presente,termino com o começo e começo do fim da historia,digo coisas que não faz mais sentindo nem pra mim e nem sei nem como terminar o texto...
Apenas ficando aqui,esperando alguma coisa minha querida
SP.Alguma historia,alguma desistência .Algum beijo,ou proferir algum beijo a
alguém.Rezar com os suicidas,dançar com as aranhas,dormir com os
insones,declarar guerra ao mundo,fugir do sistema e entre outras coisas...
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